terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Capitu

por Leo Leite

Mais uma produção do projeto quadrante exibido na rede Globo: Capitu, adaptação de Don Casmurro de Machado de Assis.

Fazer uma adaptação nunca é fácil, principalmente de uma obra literária de Machado de Assis, ícone da literatura brasileira, a qual muita gente foi obrigada a ler na época de escola. Mas o primeiro episódio da micro-série de Luiz Fernando Carvalho foi bem feliz em seu desenrolar. As atuações substancialmente teatrais, maquiagem forte, figurino bem trabalhado.

A casa de Mata-cavalos é o que mais foge da realidade narrada pelo autor do livro, muito imponente. O muro da casa, desenhado a giz no chão, traz mais a leveza da relação das duas crianças. A menina escolhida para fazer Capitu, ainda nova, consegue passar a força da personagem, principalmente com a expressividade de seu “olhar de ressaca”. O pequeno Bento é que não agradou muito a primeira vista, fato não ocorrido com seu personagem mais maduro. A fotografia amarelada e de forte contraste dá um ar de páginas de livros, a montagem, bem especial, um ar de lembranças e a direção de arte o ar teatral, já citado. Provavelmente quem leu o romance sempre imaginava a figura da Capitu com mais consistência do que a do próprio Bento, certamente por ele narrar a estória. Mas aí é que tá, a estória é totalmente narrada por Bentinho, o que leva o leitor a não saber se Capitu trai ou não trai o marido, como passar essa parcialidade do personagem-narrador imparcialmente? Fica o desafio. Um ponto literário que quebra muito a narrativa é o uso excessivo das cartelas passando os capítulos, mínimos, escritos por Machado. A trilha sonora é ousada, o que torna-a, por vezes, desnecessária. Tendo em vista que Capitu é uma obra pra TV, falta muita sonorização na vinheta de passagem de blocos, o que deixa o telespectador confuso: é intervalo ou é mais um capitulo? No geral a estréia foi bastante satisfatória e não cometeu nenhum erro fatal em relação aos escritos originais. Vamos aguardar e ver até onde a ousadia e perspicácia do diretor Luiz Fernando Carvalho vai nos levar.


http://br.youtube.com/watch?v=0N7wuzvVggo

2 comentários:

Anônimo disse...

paráááágrafos, pelamordedeus, parááááááágrafos!!!

Nem sabia q ia passar isso. Passou quando?

Dio disse...

Assisti também o primeiro episódio, perdendo o primeiro bloco, e deu pra ter uma noção de como a coisa toda vai ser. Concordo com os elogios à maquiagem, figurino, atuações e tal. Concordo com a crítica ao Bentinho também e com a "ousadia" da trilha sonora. Mas discordo em outros pontos. Acho que o personagem de Dom Casmurro (Bentinho mais velho) atua muito bem, parabéns a Michel, porém ficou com um ar de louco que talvez ele não tenha, o livro nunca deixa claro e ele até sugere sobriedade a Casmurro (ainda que essa sobriedade seja sugerida pelo próprio Bento). Não achei a trilha sonora desnecessária em alguns pontos, acredito que ficou no estilo do filme Maria Antonietta, de Sofia Coppola (bem, quanto a isso, fica a opinião bem pessoal, visto que as divergências quanto à qualidade do filme são tão radicais quanto a trilha). No mais, e por último, acredito ser bem fácil perceber nas cartelas quando é um intervalo, afinal, está escrito bem grande no inferior da tela "Estamos apresentando...". E nada mais fiel do que "zerar" o livro, colocando até os capítulos. Bem, não me cansou à primeira vista essas coisas, por isso quis colocar aqui o contraponto, mas vamos ver se é assim mesmo, ou se teu sono te fez impaciente, Léo. hahahahaha

Abraços,
Diogo.