terça-feira, 4 de novembro de 2008

Última Parada 174

Brasil / 2008 / 111min.

Dir. Bruno Barreto

Há algum tempo que não posso afirmar isso, mas esse filme valeu meu ingresso. Embora muita gente considere esse longa uma mistura de Cidade de Deus, Cidade dos Homens e Era uma vez, apesar das semelhanças, eu vi aqui uma obra muito bem pensada e realizada. Mas ainda assim tenho minhas ressalvas. Bom, vamos começar pela história: Última Parada 174 é uma ficção baseada em fatos reais (mais especificamente: no caso de 2000, quando Sandro Nascimento fez algumas pessoas de refém em um ônibus da linha Central-Gávea, no Rio de Janeiro). Antes desse filme, José Padilha (diretor de Tropa de Elite) realizou um documentário sobre o mesmo caso, Ônibus 174. Como ainda não consegui ver o doc (não por falta de vontade), não poderei fazer nenhum tipo de comparação ou traçar paralelos. Pois bem, Última Parada 174 não foca a história no dia do seqüestro, nem naqueles momentos de tensão. Na verdade, o filme retrata o ponto de vista do seqüestrador. Através das lentes do cineasta, os espectadores acompanham toda a história de Sandro (Michel Gomes), desde a sua infância conturbada até a idade adulta. Vemos como esse garoto sofreu, como ele teve que morar nas ruas, como foi preso por uma instituição de menores infratores e também como ele perdeu drasticamente pessoas queridas. O diretor acompanha a vida de Sandro e constrói a sua personalidade diante da tela. Ao mesmo tempo em que Bruno Barreto apresenta essa vítima da sociedade, ele também mostra, delicadamente, as inúmeras vezes que esse mesmo garoto poderia ter seguido caminhos diferentes. A vida é feita de escolhas e Sandro fez as dele. No fim de tudo, o dia do seqüestro fica em segundo plano. As cinco horas vividas no ônibus 174 são os momentos finais do filme. O melhor do longa é o elenco composto por ilustres desconhecidos que impressionam e entram de fato nos personagens. Outro ponto alto é a fotografia impecável. Além disso, vale a pena ressaltar a maneira como Barreto chama atenção para detalhes psicológicos dos personagens através de elementos de cena e detalhes. Mas o que realmente me incomodou em Última Parada 174 é a maneira como Sandro é retratado como vítima o tempo inteiro. O cineasta registra o fato de Sandro ter tido oportunidades, mas isso acontece apenas em segundo plano, muito sutilmente. A impressão que fica é que ele foi uma vítima absoluta que não pôde lutar diante dos fatos. Ou seja, um bom filme, com boas atuações e tecnicamente muito bem realizado, embora, na minha opinião, a maneira como o protagonista ér etratado tenha deixado a desejar. Mas vamos ver se ele vai conseguir ser selecionado e representar o Brasil no Oscar 2009.

Natali Assunção é estudante do nono período de Rádio e TV na UFPE. Sempre foi uma garota estranha e gosta muito de cinema. No momento, estagia na TV Jornal e participa do quadro Cinema Total toda quinta-feira às 16h10min no programa CBN Total, da rádio CBN. Ela é fã de Tim Burton, gosta de café, é muito distraída e tem um senso de humor peculiar.

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